As Escolas de Samba

03/07/2011 20:18

As Escolas de Samba

As escolas de samba têm sua origem nos ranchos, cordões e blocos dos carnavais antigos. Estes, por sua vez, têm suas origens na antigas festas que a população escrava e forra realizava por ocasião dos dias de Nossa Senhora do Rosário, de São Benedito e de outros santos de quem os negros eram devotos. Estas reuniões de negros de um mesmo tronco linguístico africano por ocasião dos feriados religiosos foram intituladas pelos brancos "Festa de Congos", ou Congadas. As congadas, sob o pretexto de reverenciarem os santos católicos, eram manifestações religiosas e políticas do povo negro do Rio de Janeiro, que na realidade festejavam seus deuses africanos e elegiam os reis de suas irmandades.

Destas irmandades, muitas igrejas foram demolidas durante a abertura da Avenida Presidente Vargas, mas hoje ainda restam as igrejas de Nossa Senhora do Rosário, da Lampadosa, de Santa Efigênia, de São Gonçalo Garcia (erroneamente conhecida como Igreja de São Jorge) e outras espalhadas pelo subúrbio, todas construídas no período colonial pelos escravos e forros.

Estas festas foram toleradas com certas liberdades até a chegada ao Brasil da família real portuguesa, em 1808. A partir daí deu início uma política de perseguição a essas festas, começando com a proibição de que fossem realizadas no Campo de Santana ou em qualquer rua do centro da cidade. As autoridades da corte alegavam que não ficava bem para a cidade que era a capital do reino o reunião de milhares de negros promovendo "algazarra". O que de fato temiam era que esses ajuntamentos promovessem a união desses negros contra o regime de escravidão.

Proibidos de realizarem publicamente suas festas, aos escravos e forros restou a opção de aproveitar os dias de Carnaval para neles, em meio à confusão natural dos dias de folia, promoverem as cerimônias de coroação de seus reis e os desfiles de séquitos reais africanos pelas ruas do centro da cidade. Angolas, congos, moçambiques, gêges, iorubás, cabindas, todos os povos de origem africana promoviam o desfile de seus próprios reis. Esses desfiles partiam das igrejas de cada irmandade e seguiam para o palácio do governo, na atual Praça XV, passando pela rua do Ouvidor. Daí surgiu o cortejo que caracteriza até hoje o Carnaval Carioca.

Além de apresentarem seus reis e rainhas pelas ruas da cidade e levá-los até o palácio, os negros também conduziam seus cortejos até às lapinhas dos membros mais respeitados de suas comunidades, como Tia Bebiana, no Largo de São Domingos e, mais tarde, à Praça Onze, onde ficava a lapinha de Tia Aciata, irmã caçula de Tia Bebiana.

Tia Aciata faleceu em 1924. Quatro anos depois, era criada a primeira escola de samba, a Deixa Falar, fundada no bairro do Estácio. Por isso, não assistiu ao seu primeiro desfile, muito menos o desfile extra-oficial em 1932. O primeiro desfile oficial das Escolas de Samba no Rio de Janeiro ocorreu em 1935, na Praça Onze, onde durante muitos anos se concentravam, nos dias de Carnaval, blocos e cordões. As escolas de samba cresceram, receberam muitas alterações em sua organização e desfile. Para uns, essas mudanças nada mais foram do que evolução natural que o progresso lhe impôs; para outros, isso significou o afastamento das classes populares.

Beto sem Braço e Aloisio Machado registraram em Bumbum paticumbum prugurundum: "Super escolas de samba S.A. / Super alegorias / Escondendo gente bamba / Que covardia". Da mesma forma, o belo samba Avenida Fechada, de Elton Medeiros:  "Vê passar o povo querendo brincar / E saber que agora não tem mais lugar / Pela cidade toda enfeitada / Parece até que o povo vai desenfeitar".

À esquerda, Largo e Igreja de São Domingos, demolidos para a abertura da Av. Presidente Vargas. Ali, em fins do século XIX e início do século XX, Tia Bebiana recebia os ranchos e cordões carnavalescos. À direita, Praça Onze, onde até 1924 Tia Aciata fazia o mesmo com os ranchos e onde desfilaram as primeiras escolas de samba. Atualmente é onde está instalado o monumento em homenagem a Zumbi dos Palmares

           
Fontes: Os livros A alma encantadora das ruas, de João do Rio, e Tia Ciata e a pequena África, de Roberto Moura.
 
 FONTE: https://www.laureano.org.br/escolasdesamba.htm