Biografia de Wanderley Monteiro

29/06/2011 22:52

Wanderley Monteiro começou a tirar os primeiros acordes da música, ainda criança, num cavaquinho. O instrumento foi presenteado pelo irmão violonista Alírio. Ambos herdaram do pai, que tocava acordeão, a veia musical.

Em meados da década de 80, Wanderley Monteiro tocou em bares da zona sul do Rio de Janeiro e ao poucos foi conhecendo as rodas de samba da cidade. No período, fez parte dos já extintos grupos Copa 4 e Sensa-Samba. Em 1987, passou a ser analista financeiro concursado do Banco do Brasil, onde trabalha até hoje.
Os seus primeiros versos e melodias como compositor foram feitos para os Aventureiros do Leme, bloco carnavalesco do bairro boêmio do Rio onde nasceu e cresceu ao lado de um de seus parceiros musicais, Álvaro Maciel.

Seu primeiro passo como compositor de samba-enredo aconteceu na São Clemente, escola de samba de Botafogo. Foi lá que após perder uma disputa de samba-enredo na agremiação brotou a inspiração para a música “Vida de Compositor” (“Caiu, meu samba-enredo caiu…”), composta em parceria com Álvaro Maciel, e gravado por Beth Carvalho no CD “Brasileira da Gema”.

Sobre este samba, a madrinha comentou o seguinte: “Conheci Wanderley Monteiro em 1996, num bar chamado Iguana, em Vila Isabel, num pagode de primeira, do jeito que eu gosto. Meu amigo Zé Luis, compositor consagrado do Império Serrano (“…são eles, velhos malandros maneiros..”.), me disse: ‘Beth, escuta esse samba do meu amigo Wanderley em parceria com Álvaro Maciel’. O título do samba era ‘Vida de Compositor’. Eu ouvi e disse, vou gravar! Era um samba que já nascia clássico”.

 

O crescimento musical

Daí em diante, a carreira musical de Wanderley Monteiro, tanto como cantor quanto compositor, só cresceu. Em 1998, passou a ser convidado para participar como músico e cantor das festas populares promovidas pela prefeitura na cidade do Rio, como o Carnaval e o Reveillon.

Já em 1999, passou a fazer parte da mais tradicional roda de samba carioca, o Candongueiro. Na casa, teve a oportunidade de tocar ao lado de consagrados sambistas, como Nei Lopes, Dona Ivone Lara, Wilson Moreira, Nelson Sargento, Arlindo Cruz, dentre muitos outros. Ainda naquele ano, fez o show Nossas Raízes no Café Teatro Arena (antigo Opinião) com o compositor Bandeira Brasil.

No MIS (Museu da Imagem e do Som), também no Rio, em 2001, subiu ao palco com Monarco, Ratinho e a Velha Guarda do Império Serrano para reverenciar a Velha Guarda da Portela no dia do lançamento do livro da agremiação. Ainda no MIS, ao lado de Nei Lopes e Zezé Mota, fez um show que mesclava suas composições com as de outros grandes nomes do samba.

 

O primeiro disco

Seu primeiro CD solo intitulado "Vida de Compositor" (Seven Music/Sony Music), com produção e arranjos de Paulão Sete Cordas, foi lançado em 2004 com grande sucesso. Todas as músicas do CD são de sua autoria, com diferentes parceiros. O disco revela um artista refinado nas melodias, nas letras e nos ritmos. Ele vai do partido alto ao ijexá, do samba dolente ao tradicional samba de velha-guarda.

Este primeiro CD foi lançado em duas oportunidades no Teatro Rival: abril e julho de 2004, sempre com casa lotada.

 

Composições gravadas

No CD “Pagode de Mesa 2”, de Beth Carvalho, Wanderley Monteiro emplacou a música “Água de Chuva no ar” (“O meu coração, hoje tem paz, decepção ficou para traz …”) , a faixa mais tocada daquele álbum nas rádios e nas rodas de samba do Rio e de São Paulo, na época. Beth Carvalho, em seu disco intitulado "A madrinha do samba ao vivo convida", também apresentou uma nova música do compositor, feita em parceria com o falecido Luiz Carlos da Vila: "Pra conquistar teu coração" (“Se o limite for o infinito …”). O sucesso alcançado com a música "Água de chuva do mar" fez com que Beth Carvalho a regravasse neste disco.

Diversas composições de Wanderley Monteiro também já foram gravadas por outros sambistas. Diogo Nogueira gravou “Vi no seu olhar” (parceria com Luiz Carlos Máximo) e “Água de chuva no mar”, em um DVD ao vivo do cantor. Tia Surica, pastora da Velha Guarda da Portela, no seu primeiro trabalho solo, gravou "Manto de Beleza" (parceria com Luiz Carlos Máximo). Dorina, em seu disco "Samba.com", interpretou "Não vou me iludir" (Wanderley Monteiro e Álvaro Maciel). Fundo de Quintal, Luiz Carlos da Vila, Nilze Carvalho, Délcio Carvalho, Zé Luiz do Império, grupo Galocantô, Juliana Amaral, Ernesto Pires, Bandeira Brasil e Agenor de Oliveira são alguns músicos que também já gravaram composições de Wanderley Monteiro.

 

Shows

Hoje, no Rio de Janeiro, o cantor é constantemente convidado para se apresentar nas principais casas de espetáculo da cidade, incluindo Teatro Rival, Sala Funarte, Carioca da Gema, Rio Scenarium e Centro Cultural Carioca. Em São Paulo, já realizou shows no Sesc Pompéia, Sesc Consolação, Sesc Ipiranga, Teatro Crowne Plaza, Fnac Paulista, Centro Cultural São Paulo, Bar Samba, Traço de União, Villaggio Café, dentre outros lugares.

Os seus principais shows realizados em São Paulo aconteceram no palco do Sesc Pompéia, uma das mais importantes unidades da rede Sesc no estado. Um, realizado em 2005, reuniu no palco ele, Luiz Carlos da Vila e Bandeira Brasil, acompanhados pelo grupo Candongueiro. Em 2006, subiu ao palco do Sesc Pompéia ao lado de Marçalzinho, Moacyr Luz, Wilson das Neves, Juliana Amaral e o percussionista Eliseu para homenagear a família Marçal. Em 2008, participou de um projeto musical com Nei Lopes no mesmo local.

Wanderley Monteiro integrou ainda da Velha Guarda do Império Serrano. Atualmente, pertence a ala dos compositores da Portela. Na escola de Madureira, em 2009, venceu a disputa do samba-enredo. Intitulado “E por falar em amor, onde anda você?”, o samba foi feito junto com Ciraninho, Diogo Nogueira, Luiz Carlos Máximo e Júnior Escafura.

Depoimentos sobre Wanderley Monteiro

Nei Lopes, para o jornal O Globo, no dia 8 de fevereiro de 2005:


Dos últimos CDs que recebi e tenho ouvido, confesso que o que mais me impressiona é o de Wanderley Monteiro. Trata-se de um jovem sambista, amadurecido nas melhores rodas do samba carioca, principalmente na do Candongueiro, em Pendotiba, e que fez um primoroso disco autoral. Nele, Wanderley reverencia a melhor tradição do samba mas com frescor e jovialidade, sem recorrer aos clichês passadistas que a gente volta e meia vê por aí. Sua voz, grave e aveludada, lembra os melhores momentos de Monarco e do saudoso Alberto Lonato. Seus sambas de melodia sinuosa (ele é ótimo cavaquinista) falam de amor sem pieguice e do universo das escolas realisticamente. Seu genial verso “meu samba enredo caiu; caiu por terra”, por exemplo, permite muitas leituras; e “pra quem sabe ler, um pingo é uma palavra por extenso’’ — como dizia minha tia-avó Rosária, partideira centenária. Wanderley é uma das minhas poucas admirações no jovem mundo do samba.

 

Mauro Dias, jornalista e crítico de música, em junho de 2005:
Gravado por Tia Surica (“Manto de beleza”) e Beth Carvalho (“Vida de compositor”, “Água de chuva no mar” e “Pra conquistar teu coração”), Dorina (“Não vou me iludir”) e Bandeira Brasil (“Bom pra renovar”), abençoado por Nei Lopes como admiração primeira na jovem geração do mundo do samba, cavaquinhista na condução do Candongueiro e cantor que traz no oco da voz a lembrança de Monarco e dos antepassados todos, as almas benfazejas que alimentam a cultura popular, Wanderley Monteiro sintetiza, no toque sofisticado do cavaco, na melodia sinuosa e macia, no verso carinhoso ou crítico, mas sempre direto, no canto altivo e no sorriso franco dos que nada devem e glória terão, como dizia, o que melhor traduz nossa raça: nossa música;nossas raças: Brasil.

https://www.wanderleymonteiro.com.br/